Como já contei
aqui, eu sempre achei que não podia engravidar. Como não sou menstruada à partida não faria ovulação.
Depois de dois anos de casada, sem quaisquer contraceptivos, nunca aconteceu... até aquele dia.
Tal como agora não estávamos à espera, mas a Catarina (apesar de ser uma curta gravidez de 4/5 meses) foi muito desejada.
1º ANIVERSÁRIO
No dia 18 de Agosto de 2002, andava eu "redonda", quando pela madrugada me levantei para ir à casa de banho. Lembro-me de ir muito ensonada e quando achava que tinha terminado... continuou a correr.
Pensei logo "Bolas, olha se me tivesse levantado!"
Voltei a dormir, o jeitoso foi trabalhar e eu fiquei por casa. Depois de almoço fui ao supermercado com a minha sogra, a pé, a conversar, 15 minutos para cada lado.
Depois das compras feitas, estava novamente "aflitinha" e tinha mesmo que ir... quando chego sinto-me novamente molhada. Exactamente como
desta vez.
A minha sogra, super preocupada: "tens que ir já para o hospital, vamos chamar uma ambulância.." - e eu só pensava que ela devia estar doida., tanto pânico para quê?
Fui para casa com a cabeça a estoirar de tanta aflição e nervos que me estavam a pôr. Nem sequer telefonei ao meu marido, tomei banho, fiz a depilação toda depilação, e arranjei-me para esperar por ele.
Ele com 20 anos, conduzia como um profissional há bastante tempo, mas ir de carro para Lisboa... sem carta era perigoso, fomos ter com o meu sogro que se prontificou imediatamente em ir connosco.
Eram 18h em ponto quando me sentei na sala de espera do hospital, e olhei para o relógio. Lembro-me de pensar "Agora a que horas é que eu saio daqui? Ainda por cima fim de semana..."
O médico chama-me de imediato (eu toda contente), e quando me observa, pergunta:
- Então há quanto tempo foi o rebentamento?
- Qual rebentamento?
- A
menina já perdeu as águas e tem uma dilatação de 4 dedos.
- Olha agora? Então só pode ter sido quando fui à casa de banho de madrugada...
- De madrugada?? E não tem dores? Olhe que é uma felizarda!
Felizarda, estava eu a pensar naquela altura, já não saio daqui e ele diz que sou feliz....
Vou ter com o meu marido que aguardava com o meu sogro e digo-lhes.
Subo para o piso de cima, estou deitada, ligada ao CTG, às 20h, o meu marido pergunta quanto tempo vai demorar, e a enfermeira responde: " Tanto pode ser uma hora, como um dia" .
Dali a uns 10 minutos já eu rebolava cheia de dores e "com a mania" que não queria epidural nenhuma.
Até que aparece um senhor com umas barbas enormes, brancas, assim como o cabelo ( com aquele aspecto de cientista maluco) que me diz que a epidural é a bênção do século, blá blá blá. Quando ele terminou eu já implorava pela dita epidural!
Chega uma médica que me pede para colocar em "posição de gata assanhada" e eu pergunto: O QUÊ??
- Ponha-se como uma gata assanhada, chegue os joelhos o mais possível ao queixo.
Como é que uma grávida cheia de dores, em trabalho de parto consegue se curvar daquela maneira?
Lembro-me ainda de me dizerem que só iria sentir mais uma ou duas contracções e depois podia descansar. Dito e feito. A partir dali não senti mais nada. O meu marido já queria jogar às cartas, estávamos ali os dois a olhar um para o outro, a conversar e a pensar em tudo o que nos estava a acontecer. Acho que até ali ainda não tínhamos a ideia do que iria modificar as nossas vidas.
Um tempo depois, não sei precisar quanto, as dores voltaram e deram-me o reforço da epidural.
Eram 22h horas quando passa uma enfermeira e me pergunta se já me tinham feito "o toque".
- Qual toque?
- Não lhe tocaram ai em baixo?
Assim que ela espreita começa a gritar pelos médicos.
Heis que aparecem 12 médicos (alguns estagiários) tudo ali a olhar para a "prima" e eu muito parva sem saber o que se passava. A Catarina tinha a cabeça de fora e estava já em sofrimento, eu com duas epidurais não sentia exactamente nada. A força que eu fazia não era correcta e a médica cortou a pele, para ajudar, não conseguindo rasgou a pele até à perna (nesta altura vejo o meu marido olhar para mim com um ar completamente atónico, por ver que nem um "Ai" disse).
A doutora pediu os ferros, quando entrou o "cientista" e disse que não era preciso mais nada. Colocou-me a mão na barriga:
-Quando eu disser faz força. Um, dois, três!
A Catarina saiu como um golfinho a escorregar, eram 22:13h quanto mais vontade eu tinha de chorar menos conseguia respirar, com os tubos de oxigénio no nariz.
Foi o primeiro milagre da minha vida, agora espero pelo segundo. Só peço que seja tão, ou mais rápido que a Catarina, detesto hospitais e só quero vir para casa.
Levei 40 pontos, exteriores (os interiores a médica disse que não valia a pena contá-los...).
Os primeiros 11 dias não me consegui levantar com tantas dores, disso lembro-me perfeitamente.
Hoje olho para trás e passava por tudo outra vez, valeu bem a pena e afinal nem fui das mães que mais sofreu para ter o seu filho nos braços.
A Catarina foi sempre um bebé tranquilo, não chorava muito, as noites eram santas, e até hoje nunca nos deu muitos problemas.
Como será a Vitória?
Desde já o meu muito obrigada a quem teve a paciência de ler isto tudo.